A
tempestade!
Era
por volta das 22h30min do dia 16 de janeiro de 2024, jamais esquecerei. Uma
forte tempestade atingiu a nossa querida capital. A ventania e a grande
quantidade de chuva arrasaram a cidade e provocaram diversos estragos que se
espalharam não apenas por Porto Alegre, mas em diversas regiões do estado.
A cena
era de filme: pelo corte no piso de concreto que dá acesso ao sótão da minha
casa, avistei o vazio deixado por uma telha que havia voado devido à força dos
ventos. Ato contínuo, encostei a escada portátil, feita toda em alumínio, e
subi correndo a fim de pegar uma telha reserva para tentar adaptar com a
intenção de impedir que outras telhas também voassem. Talvez o meu querido
leitor não consiga imaginar tamanho o barulho que fazia naquele sótão;
literalmente, eu estava no meio de um tornado, protegido por uma camada de
telhas e nada mais!
Neste
contexto, peguei um pequeno banquinho e investi com a telha reserva na mão para
tentar estancar a entrada de vento pela parte de cima. Quando subi no banco e
olhei para cima, eu vi a fúria da natureza! Eu vi apenas a água vindo com muita
força de encontro ao meu rosto e os ventos ameaçadores me dizendo: “desce daí”.
A impressão que eu tinha é que estava sendo protagonista destes filmes gringos
que costumam retratar fenômenos naturais extremos!
As
rajadas de vento eram muito fortes e barulhentas, colidiam com muita força
sobre a parte superior da casa! Os pingos da chuva dançavam por todos os lados,
não havia onde se esconder, era amedrontador!
De repente,
uma rajada fortíssima colidiu com toda a estrutura do telhado e um forte
estrondo me veio aos ouvidos. Foi nesse momento que minha companheira, lá de
baixo, aos prantos, gritava pra eu descer de lá rápido que “tudo ia voar”!
Apesar de todo o medo e do pavor, consegui, rapidamente, colocar a mão para
fora do telhado e encaixar a telha da forma que foi possível. Aquilo foi
assustador!
Quando
desci a escada e coloquei o tampão que fecha o acesso ao sótão, parecia que eu
estava adentrando em outro mundo, com uma nova chance de viver! Os barulhos
haviam diminuído consideravelmente, pelo menos na parte interna da casa. No
entanto, de repente, um forte estrondo veio da parte da cozinha, uma construção
alheia à parte original da residência. Àquela altura, já estávamos sem luz há
tempos e a água começou a escorrer com força a ponto de tomar conta da peça.
Em
momentos extremos, parece que o nosso corpo não consegue reagir; nossa mente
parece demorar a perceber ao que de fato está acontecendo. Permaneci por longo
tempo empurrando a água como o rodo, sem perceber que colocar baldes e bacias
poderia ajudar a conter o grande volume de água que adentrava pelo telhado.
No
outro dia, foi possível ver de perto os estragos causados por aquela
inesquecível tempestade. Um enorme pedaço te telha soltou de um dos prédios da
vizinhança e cravou sobre o telhado da cozinha, causando todo o estrago que
relatei acima. A rua estava completamente irreconhecível, com pedaços de
árvores por todos os lados e entulhos por toda a parte.
Então
o leitor deve estar se perguntando: por que ele está escrevendo sobre isso quase
um mês após aquele evento climático extremo?
Respondo:
todos os dias, eu passo por diversos pontos da cidade e sempre observo que
ainda estão presentes as árvores caídas, os fios elétricos expostos e os
entulhos que não foram retirados pelo incompetente poder público. Não chega a
surpreender, na hora de dizimar a natureza para beneficiar o capital tudo é
feito rapidamente; no entanto, quando eventos desta natureza acontecem, o poder
público chega ao escroto ponto de mendigar serra elétrica junto à população
para “limpar” a cidade. Simplesmente, bizarro!